sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Talento e Vocação

 
 
Talento é aquilo que nasce com a gente. É uma capacidade para algo, que se manifesta de forma espontânea.
Assim, quem tem a "música no corpo", desde muito cedo demonstra inclinação para isso.
Canta afinado, tem ritmo, identifica erros e desafinações, sem ter conhecimento técnico nenhum.
Se isso for aprimorado, lapidado, aparece e aflora "todo" o talento.
Já vocação, é uma identificação com aquela função, o exercício em si daquilo, arte, profissão, ou qualquer que seja o talento. Isso vale pra qualquer coisa. Vocação é o tracionar, uma inclinação, é levarmos adiante o desenvolvimento do talento, para sobrevivermos disso.
Tenho certeza que o leitor conhece várias pessoas que, tem talento para a música mas que, por algum motivo, não fizeram dela sua profissão. Como eu disse antes, vale pra qualquer área. Conheço várias pessoas com vocação pra professor e não o são. Administradores, economistas, e qualquer, qualquer profissão.
Isso quer dizer que ter talento, não significa ter vocação...
Deixando de lado questões mais intrincadas, relacionadas com as dificuldades de cada carreira, a de músico é uma destas, estamos aqui trazendo uma idéia em linhas gerais.
A vocação é algo que se manifesta mais tardiamente, por volta da adolescência, e é aquilo que vai fazer bater o coração. É aquele sentimento forte que nos empurra para um lugar, algo que parece nos chamar.
A vocação, também sofre a influência do meio onde estamos. Amigos, parentes, os acontecimentos do momento, a mídia, a moda, irão exercer influência na identificação da profissão que iremos exercer.
Vou dar o exemplo do que aconteceu comigo.
Comecei a estudar música na mesma época em que fui estagiar no Banco do Brasil, as carreiras eram paralelas. Mas sob o ponto de vista mais "racional" digamos assim, entendíamos que eu deveria seguir carreira no banco.
Porém não foi o que ocorreu.
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Eu me preparava para o concurso do Banco do Brasil, mas algo internamente, me empurrava para outro lugar.
A minha identificação com a profissão de músico e alguns eventos que conspiraram contra a carreira de bancário, falaram mais altos.
Quando me dei conta estava dentro da música.
Tudo de forma muito rápida e espontânea.
Desde as primeiras vezes (a partir do momento em que eu já sabia tocar, obviamente) quando ouvia o som de uma gaita, nos bailes e shows que freqüentava, se manifestava um sentimento muito forte em mim.
Um desejo enorme de tocar!
Certa ansiedade em estar lá, no palco, fazendo o que eu estava vendo os outros fazer.
Foi neste momento que a vocação, ou pelo menos, alguma vocação, digamos assim, fez o casamento com o talento.
A vocação faz com que você se projete naquilo, que supere as dificuldades inerentes da profissão, que leve adiante seus projetos sem esmorecer e que, evidentemente, também colha os frutos da dedicação e tenha prazer no que se está fazendo.
Escrevo isso por que esses dias tive novamente uma prova do que estou dizendo.
Andava eu por casa, quando ouvi dizer que teria um baile com o João Luís Correa e Grupo Campeirismo lá na Lomba Grande. Aliás um grande conjunto em um ótimo lugar.
Em um dos raros momentos de folga que tive me fui, apreciar os colegas e, quem sabe, bailar alguma vanera com minha prenda.
Pois bem, depois de abraçar os amigos e conversar um pouco, o baile enfim começou.
E aquela música me contagiou de forma tal que tive a mesma sensação que tinha lá no começo da carreira. Pareceu que era um menino cheio de vontade. O sentimento que me puxava ao palco, para fazer o que sei e o que fiz minha vida inteira, até agora, tocar gaita!
Passaram-se mais de vinte anos desde a primeira vez que senti isso (aquela força do desejo do que eu queria ser), e naquele momento, lá na Lomba Grande, notei que estava de bodas, comemorando o aniversário de casamento do meu talento (ou pelo menos algum talento) com a minha vocação.
 
Abraços a todos.

4 comentários:

  1. Meu primo...comentar o que!!!!!!
    Disseste tudo e mais um pouco...muitas vezes estamos nesse "Y" da vida onde temos de tomar uma decisão e por alguns ou vários motivos somos obrigados a buscar aquilo que diz o coração.
    Apesar de hoje não estar mais atuando nos palcos ler suas palavras me fez voltar no tempo em que ficávamos a frente os grupos e sonhando um dia estar no palco.
    Forte abraço de Mano véio que te admira não só pelo músico, mas pelo carater, pela pessoa que es.

    Valeu

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  2. Grande Miguel...pois é, a vida nos leva e é assim mesmo. Mas as recordações, mesmo as que nos trazem nostalgia, também nos trazem uma grande alegria dos momentos vividos com intensidade, como eram aqueles citados por ti. E que venham outros momentos tão intensos quanto aqueles.
    Abraços Mano.

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  3. Ola!
    Toco acordeon a 2 anos e meio.Se inspirei muito em você.Vocação q descobri aos 12 anos...
    Abraços

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  4. Renan, gosto muito de ouvir relatos como este teu. Fico feliz que tenha influenciado outros a começarem, assim como eu fui influencido pelos gaiteiros que me antecederam.
    Um forte abraço amigo e vamos em frente que o palco nos aguarda!
    Abraços.
    Daniel Hack

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