terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ao meu querido amigo Tio Glênio

Ao meu querido amigo Tio Glênio
Estava ouvindo o programa Sala de Redação da rádio Gaúcha.
O Paulo Santana se manifestava, rendendo uma homenagem ao Glênio Reis.
Eu o chamo de Tio Glênio...
Mas o relato do Santana se referia a uma passagem, dramática, da vida do nosso querido Glênio. Ele perdera a esposa, que estava enferma a algum tempo, e no dia do passamento da morte, ele que é um grande comunicador, fora fazer o seu programa ( o que demonstra toda grandeza e força deste ser-humano).
E foi por um motivo nobre. A esposa havia pedido que quando ocorresse o seu falecimento, que ele fosse ao programa e rodasse a música "As Rosas não Falam" do Cartola, que era a preferida dela.
E foi o que ele, sensível, e certamente com muita dor no coração, fez.
Não vou me estender na descrição da fragilidade que um momento destes ocasiona.
Vou falar do nobre Glênio. Vou contar do momento em que me aproxima dele. Da grandeza de uma figuraça simples e muito bem quista.
O Tio Glênio é muito conhecido e respeitado no meio musical. Comanda o programa Sem Fronteiras pela rádio gaúcha e transmite com maestria os Festivais de Música que por aqui ocorrem.
É bastante prestigiado pelos músicos e,
carrega consigo um certo ar de autoridade.
Não que ele, com toda humildade que sai dos poros, tivesse reivindicado para si tal condição, mas sim por uma consagração de seu conhecimento e relevante serviço prestado a nossa cultura.
Quando eu estava ingressando nos Serranos tive uma bela experiência com ele.
Estávamos fazendo um show num festival que a rádio gaúcha transmitia.
Eu estava dando os meus primeiros passos nos Serranos e era natural que os holofotes não estivessem direcionados a mim.
Tinha feito meu trabalho e já me distanciava do palco. Estava sentado, no camarim. Comunicava-me com um ou outro conhecido.
O ritmo dos bastidores era frenético. Todos os músicos que haviam participado do festival e também repórteres das rádios que transmitiam o evento.
Eu acompanhava meio de longe aos acontecimentos.
Já havia notado a movimentação em entrevistas e conversas do Tio Glênio, e fiquei ali, absorto, observando aquele ícone.
 
Já tinham me apresentado a ele em outra oportunidade, mas não tinha intimidade nenhuma, pra falar a verdade até achei que ele não se lembrava de mim.
Num momento de distração, em que tirei os olhos dos acontecimentos do camarim, e me detive nos meus pensamentos, eis a surpresa que tive.
Ao meu lado ele, O Tio Glênio.
"E aí menino", disse ele fraternalmente. Tremi! Era o Tio Glênio que estava ao meu lado perguntando sobre mim.
O saudei de forma efusiva. Afinal eu sou assim. Mas ainda surpreso.
Depois de alguns assuntos triviais, ele continuou: "menino, eu quero-te dizer que está muito bonito teu toque de gaita. Parabéns por estar nos Serranos, tu estás no lugar que mereces. Tens luz própria bastante intensa que te fará seguir em frente".
Vejam a grandeza desta figura. Ele reverenciado por todos, me procura espontaneamente para alguns elogios.
O carisma do Tio Glênio é uma coisa impressionante. Sempre tem alguma palavra positiva pra usar. É uma "centrífuga".
Há no seu entorno uma grande quantidade de pessoas que se regozijam de sua agradável companhia.
Meu grande amigo: Força!
Estamos e estaremos contigo Tio Glênio.
"Do alto dos seus 83 anos e da autoridade que a experiência te deu, meu amigo, ainda temos muito a aprender contigo".
Das palavras que usaste pra mim há 14 anos, hoje as faço minhas: "Tens luz própria bastante intensa e seguirás a vida, sempre adiante".
Um forte abraço deste teu amigo Gaiteiro.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Talento e Vocação

 
 
Talento é aquilo que nasce com a gente. É uma capacidade para algo, que se manifesta de forma espontânea.
Assim, quem tem a "música no corpo", desde muito cedo demonstra inclinação para isso.
Canta afinado, tem ritmo, identifica erros e desafinações, sem ter conhecimento técnico nenhum.
Se isso for aprimorado, lapidado, aparece e aflora "todo" o talento.
Já vocação, é uma identificação com aquela função, o exercício em si daquilo, arte, profissão, ou qualquer que seja o talento. Isso vale pra qualquer coisa. Vocação é o tracionar, uma inclinação, é levarmos adiante o desenvolvimento do talento, para sobrevivermos disso.
Tenho certeza que o leitor conhece várias pessoas que, tem talento para a música mas que, por algum motivo, não fizeram dela sua profissão. Como eu disse antes, vale pra qualquer área. Conheço várias pessoas com vocação pra professor e não o são. Administradores, economistas, e qualquer, qualquer profissão.
Isso quer dizer que ter talento, não significa ter vocação...
Deixando de lado questões mais intrincadas, relacionadas com as dificuldades de cada carreira, a de músico é uma destas, estamos aqui trazendo uma idéia em linhas gerais.
A vocação é algo que se manifesta mais tardiamente, por volta da adolescência, e é aquilo que vai fazer bater o coração. É aquele sentimento forte que nos empurra para um lugar, algo que parece nos chamar.
A vocação, também sofre a influência do meio onde estamos. Amigos, parentes, os acontecimentos do momento, a mídia, a moda, irão exercer influência na identificação da profissão que iremos exercer.
Vou dar o exemplo do que aconteceu comigo.
Comecei a estudar música na mesma época em que fui estagiar no Banco do Brasil, as carreiras eram paralelas. Mas sob o ponto de vista mais "racional" digamos assim, entendíamos que eu deveria seguir carreira no banco.
Porém não foi o que ocorreu.
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Eu me preparava para o concurso do Banco do Brasil, mas algo internamente, me empurrava para outro lugar.
A minha identificação com a profissão de músico e alguns eventos que conspiraram contra a carreira de bancário, falaram mais altos.
Quando me dei conta estava dentro da música.
Tudo de forma muito rápida e espontânea.
Desde as primeiras vezes (a partir do momento em que eu já sabia tocar, obviamente) quando ouvia o som de uma gaita, nos bailes e shows que freqüentava, se manifestava um sentimento muito forte em mim.
Um desejo enorme de tocar!
Certa ansiedade em estar lá, no palco, fazendo o que eu estava vendo os outros fazer.
Foi neste momento que a vocação, ou pelo menos, alguma vocação, digamos assim, fez o casamento com o talento.
A vocação faz com que você se projete naquilo, que supere as dificuldades inerentes da profissão, que leve adiante seus projetos sem esmorecer e que, evidentemente, também colha os frutos da dedicação e tenha prazer no que se está fazendo.
Escrevo isso por que esses dias tive novamente uma prova do que estou dizendo.
Andava eu por casa, quando ouvi dizer que teria um baile com o João Luís Correa e Grupo Campeirismo lá na Lomba Grande. Aliás um grande conjunto em um ótimo lugar.
Em um dos raros momentos de folga que tive me fui, apreciar os colegas e, quem sabe, bailar alguma vanera com minha prenda.
Pois bem, depois de abraçar os amigos e conversar um pouco, o baile enfim começou.
E aquela música me contagiou de forma tal que tive a mesma sensação que tinha lá no começo da carreira. Pareceu que era um menino cheio de vontade. O sentimento que me puxava ao palco, para fazer o que sei e o que fiz minha vida inteira, até agora, tocar gaita!
Passaram-se mais de vinte anos desde a primeira vez que senti isso (aquela força do desejo do que eu queria ser), e naquele momento, lá na Lomba Grande, notei que estava de bodas, comemorando o aniversário de casamento do meu talento (ou pelo menos algum talento) com a minha vocação.
 
Abraços a todos.